Name:
Location: Cranbrook, Colômbia Britânica, Canada

Helder Fernando de Pinto Correia Ponte, também conhecido por Xinguila nos seus anos de juventude em Luanda, Angola, nasceu em Maquela do Zombo, Uíge, Angola, em 1950. Viveu a sua meninice na Roça Novo Fratel (Serra da Canda) e na Vila da Damba (Uíge), e a sua juventude em Luanda e Cabinda. Frequentou os liceus Paulo Dias de Novais e Salvador Correia, e o Curso Superior de Economia da Universidade de Luanda. Cumpriu serviço militar como oficial miliciano do Serviço de Intendência (logística) do Exército Português em Luanda e Cabinda. Deixou Angola em Novembro de 1975 e emigrou para o Canadá em 1977, onde vive com a sua esposa Estela (Princesa do Huambo) e filho Marco Alexandre. Foi gestor de um grupo de empresas de propriedade dos Índios Kootenay, na Colômbia Britânica, no sopé oeste das Montanhas Rochosas Canadianas. Gosta da leitura e do estudo, e adora escrever sobre a História de Angola, de África e do Atlântico Sul, com ênfase na Escravatura, sobre os quais tem uma biblioteca pessoal extensa.

Monday, May 29, 2006

3.6 Porquê Estudar a História de Angola?


O passado condiciona necessáriamente não só o que somos hoje, mas também o que fomos ontem, e mesmo o que seremos amanhã. Assim, o estudo da História de Angola ajuda-nos a compreender melhor o processo de mudança ao longo do tempo e assim entender melhor o que é hoje Angola.


1. Ir à Raíz das Questões

Com frequência, o estudo de acontecimentos recentes não é suficiente para explicar uma determinada realidade social ou política, havendo necessidade de se "voltar mais atrás no tempo" a fim de podermos entender melhor as raízes e os agentes-chaves de mudança e a sua evolução, prestando não só atenção a factores conjunturais mas também aos estruturais. Por outro lado, sabemos também que o conhecimento do momento presente ajuda-nos a melhor compreender o passado. O estudo da história é quem nos ajuda a aprender as relações causais entre os factos históricos e a ordená-los de acordo com um padrão ou lógica.

Só através do estudo da História de Angola podemos compreender não só o que mudou como também o "porquê" que as "coisas" mudaram, e quais os agentes da dinâmica social angolana que persistiram ao longo dos tempos, não obstante mudanças radicais noutros campos, pois como Leibnitz disse, "a melhor maneira de compreender uma realidade é conhecer-lhe as suas causas".


2. Melhor Entendimento Social

A história é a memória comum de uma sociedade. A História de Angola relembra-nos não somente os seus heróis e grandes feitos do passado, ou o sincretismo do contacto entre vários mundos, mas também nos revela a crueldade e violência do tráfico de escravos, a exploração colonial e a destruição da Guerra Civil; o seu conhecimento é essencial para uma melhor cidadania, ajudando assim na promoção e realização de uma identidade nacional mais sã e mais completa. O estudo da História de Angola ajuda também o melhor entendimento entre os homens, contribui para a construção de uma sociedade democrática mais esclarecida e actuante dos seus cidadãos.


3. Padrões de Evolução

O conhecimento da História de Angola mostra-nos como indivíduos, grupos, instituições, classes, povos e sociedades evoluiram ao longo do tempo, enquanto contribuiram para a coesão do todo a que hoje chamamos Angola. O seu estudo dá-nos uma preciosa lição acerca da evolução e tendências a longo prazo das relações económicas, estruturas políticas e religiosas, instituições sociais nacionais, e desafios e valores, ao mesmo tempo que nos mostra como é que os agentes se articulavam entre si, e como é que Angola se relacionava com o resto do mundo. É certo que o passado não se pode mudar, pois os factos históricos em si não se repetem, mas o nosso conhecimento deles é um processo que evolui e se aperfeiçoa continuamente ao longo dos tempos.


4. Pedagogia da História de Angola

Quanto aos erros e tragédias do passado, a sabedoria popular diz-nos que quando um povo esquece a sua história, esse povo está condenado a repetir os mesmos erros e tragédias do passado. É assim importante para uma sociedade estar bem informada acerca das grandes tragédias da humanidade ocorridas no passado, de forma a cedo poder detectar, perceber e resolver os primeiros indícios ou tendências que possam levar a novas tragédias. O conhecimento e a divulgação da história facilitam a vigilância e o activismo político, pois todos aprendemos com os erros do passado, e como o historiador Marc Bloch bem notou, sabemos que "a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado". Por outro lado, é também importante saber quais os sucessos do passado para os compreender e adaptar ao presente.


5. Métodos de Pensamento e Pesquisa


Num plano mais pessoal, a aprendizagem da História de Angola, como laboratório infinito do seu passado, ajuda-nos a identificar melhor o continuum da sua evolução e avaliar os conflitos ao longo dos tempos, ajudando-nos assim pessoalmente a discernir melhor quais os agentes principais de mudança em situações complexas, cuja compreensão nos ajuda a enfrentar alguns problemas e dilemas que, como pessoas comuns enfrentamos no nosso dia-a-dia.

O estudo da história facilita ainda a aquisição de melhores hábitos pessoais de pesquisa, de avaliação de conhecimentos e de escolha, e o despertar da mente para compreender com mais rigor a realidade social e política que nos rodeia. O estudo da história ajuda-nos ainda a desenvolver bons hábitos de pensar e agir, predicado essencial para um melhor desempenho social e político, seja para uma classe política, comunidade, grupo, ou simplesmente para um eleitorado mais educado e eficaz.


6. Identidade Angolana


A História de Angola é a memória social e cultural dos povos que cimentaram a sua formação. A Nação Angolana é formada por grupos étnicos e culturais variados que partilham o mesmo passado comum, e é a história que ajuda a identificar a Nação Angolana como tal. Porém, a história não só ajuda na formação da Nação Angolana, como também é ela que fornece os elementos que leva os seus cidadãos a identificarem-se como "nacionais" com base na experiência dos seus antepassados.

Assim, é a História de Angola que nos mostra como povos originalmente distintos e independentes entraram em contacto uns com os outros e se transformaram ou se juntaram a outras sociedades ao longo dos tempos, e como essa aglutinação criou e alimentou a identidade política e social que é a Angola de hoje Podemos assim dizer que é a História de Angola nos ajuda a definir como Angolanos.


7. Prazer e Delícia

Por fim, o estudo da história não só informa, mas também inspira e delicia. É, como sabemos, um profundo prazer, pois pouco há de mais belo do que a leitura da descrição ou análise do passado emanado da mente e pena de um bom mestre em história. Com referência ao prazer que a leitura ou o estudo que uma boa obra de história nos pode dar, transcrevo as palavras do Padre José Matias Delgado no seu Prólogo do Anotador à História Geral das Guerras Angolas, escrita por António de Oliveira Cadornega e publicado em Lisboa em 1680, e editado pela Agência Geral do Ultramar, Lisboa, em 1972, com anotações do Padre José Matias Delgado:

"Cadornega era dotado de um grande espírito de observação e conta os factos de tal modo que se torna agradável e de interesse a leitura da sua história, posto que à primeira vista nos amedronta pela enormidade dos seus compactos capítulos. A sua maneira de escrever é tão natural, tão fluente e simples que nos encanta, nos deleita e sobretudo nos comove, fazendo-nos passear diante dos olhos os factos admiráveis de grande heroismo e verdadeiras epopeias."

0 Comments:

Post a Comment

<< Home