3.4 Os Grandes Períodos da História de Angola
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Esta é uma tarefa sem fim em vista, pois continuo a melhorar este blogue continuamente. Assim, volta em breve, que vais encontrar algo de novo!
A descrição e o estudo da evolução humana ao longo dos tempos é mais fácil de se compreender quando a dividimos em idades ou épocas distintas, pelas quais agrupamos um ou mais elementos fundamentais comuns.
Por outro lado, a passagem de uma época histórica para a próxima é em geral marcada por um salto qualitativo (uma revolução), geralmente com origem em melhoramentos significativos nas técnicas de produção de alimentos ou na técnica de fazer guerra, ou ainda na organização comercial ou político-militar.
É em geral fácil de reconhecer as mudanças no sistema económico (modo de produção) e nas mudanças das instituições sociais e políticas que demarcam um período do próximo que lhe segue.
Devido à condição específica e única da história de cada grupo humano a ser estudado, não é possível ter uma regra de periodização universal que se aplique às histórias individuais de todos os grupos humanos. Cada grupo humano ou região tem uma evolução única, diferente das histórias de todos os outros grupos humanos; de facto não há duas sociedades humanas com a mesma história.
Assim, a periodização da história de cada grupo humano a ser estudado tem sempre que atender às condições específicas da evolução desse grupo ao longo dos tempos. Com efeito, a periodização da História de Angola é necessariamente diferente da periodização da História do Brasil, por exemplo, em que ambas partilham a existência de um período colonial de pouco mais de tr|es s]eculos, mas encontramos no Brasil o Período do Império sem contraparte na História de Angola.
Contudo, à medida que resumimos e comparamos a história de dois ou mais grupos humanos distintos, podemos notar que certos padrões de evolução são sempre presentes e relativamente constantes, o que nos permite agregar a história desses grupos humanos em grupos mais gerais, em que se torna mais fácil identificar essa história em períodos mais gerais. Assim, à medida que passamos de unidades históricas mais pequenas (tribos e povos) para maiores (reinos, impérios ou civilizações) notamos uma agregação dos períodos dessas sociedades em períodos mais gerais e mais globais.
Como exemplo, podemos dizer que apesar das condições específicas de cada povo a entrar na História de Angola, em tempos e processos diferentes, podemos identificar em geral um período antigo, um período pré-colonial, um período de contacto, e finalmente um período de absorção no todo angolano. Assim, o povo original deixou de o ser quando passou a fazer parte da unidade histórica a que chamamos Angola, como é o exemplo do Antigo Reino do Ndongo.
2. A Transição de um Período para o Próximo
É importante notar que a transição de um período histórico para o próximo não acontece numa data exacta ou de um dia para o outro; de facto, o processo de transição pode durar séculos e ser tão vagaroso que nem se nota qualquer transição.
Por vezes os historiadores adoptam um acontecimento extraordinário e marcável como o "momento" de transição de um período para o próximo, como é por exemplo a chegada da esquadra de Diogo Cão à foz do Zaire em 1483, como momento que define o começo do período colonial.
Contudo, no caso da História de Angola é difícil marcar com exactidão a data em que termina o período pre-colonial e quando começa o período colonial. Como marco do início do período colonial aponta-se em regra como acontecimento significativo a chegada dos navios de Diogo Cão à foz do Zaire em 1483; mas se nos debruçarmos mais atentamente sobre esse acontecimento verificamos que os Portugueses não tinham inicialmente a intenção de colonizar Angola, mas sim encontrar riqueza mineral (as minas de prata de Cambambe e mais tarde as minas de cobre do Sumbe Ambela), e só com o fundação de Luanda em 1575 e de Massangano em 1583 por Paulo Dias de Novais, é que os portugueses deixam o Congo e, formalmente, se estabeleceu a estratégia de "colonizar" Angola.
Temos ainda que considerar o facto de que a "absorção" de povos e estados ancestrais africanos no todo a que chamamos "Angola" durou até quatro séculos a se realizar, pois apesar da conquista do Antigo Reino do Ndongo nos fins do Século XVI, a integração do povo Ambó no todo angolano não teve lugar até aos princípios do Século XX.
3. Periodização Eurocêntrica
Habituados que estamos com a periodização eurocêntrica da história universal de acordo com a evolução linear eurocêntrica: Pré-História - Antiguidade Clássica - Idade Média - Idade Moderna e Idade Contemporânea, é talvez com certa relutância que aceitamos que o mesmo modelo de periodização não se aplique à história da humanidade em África.
Porém, quando nos debruçamos sobre o seu estudo, torna-se imediatamente evidente que a história dos povos africanos seguiu por dezenas de séculos os seus próprios caminhos até se cruzar com os caminhos da Europa desde a época dos Descobrimentos Portugueses.
Mesmo depois do contacto e cruzamento hstórico com os europeus a História de África seguiu um padrão único e distinto da História da Europa. Assim, como resultado da interacção entre os povos e estados da Europa e da África, encontramos na História de África um período colonial, que não encontramos na história dos povos ou estados da Europa.
4. O Factor Diversidade na História de África
É importante lembrar que a África não é uma unidade geográfica, cultural e histórica homogénea e coesa (decerto um mito eurocêntrico); muito pelo contrário, a África é talvez o continente no mundo com a maior diversidade ecológica e cultural, pois constatamos que existem diversas "Áfricas" muito distintas umas da outras e em que cada uma tem uma identidade muito própria.
Em África não só encontramos o maior deserto do mundo (o Sahara), como encontramos a extensa floresta equatorial, as praias quentes do seu litoral, como as neves eternas do Kilimanjaro; Em África não só encontramos os povos de compleição mais pequena (os pigmeus Mbuti da África Equatorial), como encontramos os homens mais altos do planeta (os Watutsi do Ruanda), os Bérberes do Sahara como também os Fang da floresta equatorial, ou o povo Malgache e os Khoisan da África Meridional.
Assim as grandes regiões africanas como o Magrebe, o Sudão, a África Ocidental (Sahel), a África Equatorial, a África Oriental, a África Central, a África do Sul e Madagáscar são regiões tão diferentes entre si, como a Índia o é da China, ou como Portugal o é da Suécia.
No caso particular da África Central, de que Angola faz parte, a periodização da sua história tem que ter em atenção a sua evolução humana específica na região ao longo de milénios, o que requer uma periodização própria.
5. Os Grandes Períodos da História de Angola
Assim organizei esta Viagem Pela História de Angola em grandes períodos ou épocas, na esperança de que a extensão dos tópicos se torne mais fácil de se compreender. Esta periodização é um pouco arbitrária e opaca, contudo é talvez a mais aceite pela maioria dos estudiosos da História de Angola. Assim sugiro que na História de Angola encontramos quatro grandes épocas distintas, a saber:
5.1 A Pré-História de Angola
A Pré-História de Angola, começa com a Idade da Pedra acaba com o fim do Período Neolítico - em geral de há quarenta mil anos até cerca do ano 1.000 depois de Cristo; cobrindo a proto-história dos povos pré-Bantu - San, Mbuti (Pigmeus), Cuissis, e Cuepes, que desde longa data habitavam o actual território de Angola, até à chegada dos primeiros povos Bantos.
Por sua vez, o Período Pré-Histórico é geralmente dividido em épocas que incluem a Idade da Pedra, o Período Neolítico, e o povoamento do território pelos povos pré-Bantu Mbuti da metade norte de Angola, e San da metade sul de Angola, até ao estabelecimento dos primeiros potentados Bantu à região no Séc.XI, precursores dos potentados Ambundu (Ndongo) e Antigo Reino do Congo.
Por norma, os povos Ovakwanbundu, Cuíssis, e Cuepes, são classificados como pré-bantu, o que não quer dizer que existiam como grupos humanos diferenciados dos San antes da chegada dos povos Bantu à região. Um número crescente de estudiosos partilha a opinião de que esses povos são de facto o resultado do cruzamento ou absorção de antigos grupos San pelos recém-chegados povos Bantu à região sudoeste de Angola.
5.2 O Período Pré-Colonial
O Período Pré-Colonial começa com a chegada dos povos Bantu à bacia do rio Quanza, que praticavam a agricultura e a pastoricia, e possuiam tecnologia para manobrar o ferro, e o consequente estabelecimento dos reinos da savana, e termina na data da chegada dos Portugueses ao Antigo Reino do Congo em 1481. Isto é, desde cerca do ano 1.000 depois de Cristo até aos fins do Séc. XV (cinco séculos). Foi durante o período Pré-Colonial que se formaram os primeiros estados Bantu na região pelos povos Ambundo e Bakongo.
5.3 O Período Colonial
O Período Colonial, é definido pelos tempos de Angola como colónia portuguesa - de 1483 a 1975; O
Período Colonial, começa com o estabelecimento da colónia de Angola pelos portugueses em 1575 (pelo donatário Paulo Dias de Novais) e termina com a Independência de Angola em 1975. O Período Colonial pode ser dividido em três épocas distintas:
a) Primeiro Período - A Época da Conquista Portuguesa - Desde os primeiros contactos com os Portugueses que chegaram ao Antigo Reino do Congo em 1482 e a fundação de Luanda em 1576 e o estabelecimento dos fortes portugueses de Massangano em 1583 e Muxima em 1594 ao longo do curso do Rio Cuanza, e eventual conquista do Antigo Reino do Ndongo. Durante este período, e como reflexão do mito do El Dorado resultante do achamento de enormes quantidades de ouro e prata na América Central e do Sul (civilizações Azteca, Maya e Inca) pelos espanhois, a presença portuguesa era dominada pela pelo crescente tráfico de escravos para São Tomé e Brasil, e pela procura das famosas minas de prata de Cambambe e do Sumbe Ambela.
b) Segundo Período - A Época do Tráfico de Escravos, inicialmente orientada para os engenhos de açúcar de São Tomé, ainda nos fins do Séc. XVI, e depois para os engenhos de açúcar do litoral brasileiro (Maranhão, Pernambuco e Bahia) e Antilhas, para as minas de prata no Perú e na Bolívia, até aos finais do Sec. XVIII, e para as minas de ouro e diamantes de Minas Gerais e São Paulo. Depois da independência do Brasil em 1822 e até à proclamação da Lei Áurea em 1888 no Brasil, uma parte da exportação ilegal de escravos de Angola foi orientada para os Estados Unidos e para Cuba, embora a maioria dos escravos continuasse ainda a ser canalizada para as fazenfas de café no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais).
Foi durante este terceiro período que a ocupação efectiva do território pelos Portugueses se completou através das Campanhas Militares de Ocupação entre 1851 e 1925 (no contexto do imperialismo europeu e da Corrida à África), e a colonização branca do território deu os primeiros passos, com a exploração mais intensa dos recursos agrícolas e mineiros da colónia.
5.4 Angola Estado Independente
Angola como estado soberano, depois da Independência, depois de 1975 até aos dias de hoje (2024). Angola Estado Soberano, começa com a descolonização de África, passando pela luta de libertação nacional (1961-1974), descolonização portuguesa (1974-75), independência (1975), breve experiência marxista-leninista (1976-1991), Guerra Civil (1974-2002), petróleo bruto e diamantes e cleptocracia e corrupção, e por fim Angola em paz (2002) e em franco desenvolvimento.
18 Comments:
OII!
achei muito interessante seu blog!
é muito dificil achar um blog ultil nessa rede,parabens por se dedicar á algo que muito importante!
beijos =*
Olá Helder, estive em Angola em antes das primeiras eleições livres... Connheci Lubango, Kuanza Norte e Luanda... um pouco de cada. Havia diálogo e tive uma experiencia muito bela. Hoje estou tentanto produzir material didático para professores do Ensino Médio e gostaria de utilizar trechos do seu texto que é muito rico e bem escrito.
Um abraço,
Lourdes Teodoro
Muito bom cara!
Parabéns mesmo, falta pessoas assim como você na rede.
Valew mano me ajudou muito.
Obrigada por me fazer entender um pouco mais sobre o país que me viu nascer e, pelo qual, hoje longe, sinto a maior saudade, amor e devoção. Diferente do seu texto sobre a sua viagem pela história de Angola, o qual me enterneceu e me trouxe recordações maravilhosas, mas igualmente interessante. Um abraço e continuação de um bom trabalho.
agora me sinto um angolano mais completo, por saber mais de forma clara sobre o universo antigo de angola,muito obrigado.
Bons conteudo. A indagação é: Quando a marinha portuguesa atracou Zaire? 1481 1482 ou 1483?
Está sendo criado um grupo de pesquisadores que terão o trabalho de investigar e abordar sobre a história de Angola,orientado pelo Presidente da República de Angola.Espero que os recolhidos dados históricos deles tenham descrições históricas tão essenciais como essas.
angola força. éu amo angola.....
eu amo Angola, Angola meu pais
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Helder Ponte: Parabéns pelo seu trabalho investigativo sobre vários temas úteis no momento atual e para as gerações futuras. Lendo a sua matéria do mês de Sunday, MAY 28 2006, 3.1 Donde Vem o nome "Angola"?, fiquei confuso quando escreve que o reinado do Ngola A Kiluanje Irene foi nos anos de 1515 a 1556. Mais adiante no item 2.Paulo Dias de Novais e o Reyno de Angola escreve que passou cinco anos no cativeiro na corte do Rei de Ndongo Ngola A Kiluanji Irene entre 1560 e 1565 que corresponde, na listagem dos reis do Antigo Reino do Ndongo, aos reinados do Rei Ndambi A Ngola (1556-1562) e Rei Ngola Kiluanje Kia Ndambi (1562-1575). O nome dos reis não correspondem às datas mencionadas. Agradeço-lhe o favor de atender ao meu comentário e esclarecer-me quanto às datas e nomes, porque estou fazendo um trabalho envolvendo estes personagem da história de Angola.
No aguardo da sua resposta me subscrevo,
Luís Martins Soares
E mail: luis.m.soares@bol.com.br
gostei mais a minha duvida consta no seguinte:
caracterizar a ocupação colonial em Angola antes e depois da independência do Brasil
Bom dia gostei do artigo e gostaria que retificasse o termo Banto para Bantu e não existe bantos so bantu. Os bantu este termo foi descoberto pelo Alemão Bleeck, é um grupo de povos que de raça melano-africana que se serve, sob qualquer forma, do radical( tema substantival) NTU para designar um ser humano, este radical associado ao prefixo (classificativo prural)BA, forma o conjunto de Bantu.
Foi tão especial ver como está relacionado este blog é util e muito interesante para os trabalhos de pesquisa...
Muito obrigado foi tão especial ler esse livro ou melhor dizer esse texto bonito para quem tem para quem tem obrigação do velho para quem espera o melhor para o seu futuro
grato por essa informação, visto em novembro de 2020.
Boas Noites, Sr. Helder.
Preciso de trocar algumas ideias com o Sr.
Penso que sabe quem eu sou.
Favor de entrar em contacto comigo via
jcurto1996 arroba gmail.com
Obrigado
Boa noite Sr.Helder!
Sr.preciso que o faça um resumo sobre a História de Angola! Obrigado
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