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1. Muito Ainda Está por Estudar e Escrever
Apesar dos povos antigos que habitavam o que hoje chamamos o território de Angola serem pobres em documentos escritos, a sua história é muito rica, e apesar do grande esforço de um bom número de investigadores de história, o conhecimento da História de Angola é ainda hoje muito incompleto.
Com efeito, podemos dizer que a história completa de Angola está ainda por escrever, pois existem muitas lacunas muito extensas no seu corpo de conhecimento. Há períodos completos ou grupos étnicos inteiros sobre os quais pouco ou nada se sabe da sua história. O que se lê nos livros de histórias são ainda apenas conjecturas. Como exemplos citamos apenas a história de alguns povos bantos que vieram ocupar Angola, e ainda menos o que se sabe sobre a história dos povos que viveram no território a que hoje chamamos Angola antes da chegada dos povos Banto, como os povos Mbuti e San, e mesmo ainda sobre os povos que resultaram dessa misceginação ao longo dos séculos, como os Cuíssis e os Cuepes. Menos ainda sabemos sobre povos hoje extintos, como os Ovakuanbundo do Namibe.
No caso específico desta Viagem Pela História de Angola, menciono o exemplo das migrações dos povos Bantos e o seu impacto nas populações que até aí ocupavam o território de Angola, que desconhecemos quase completamente. De facto, com a excepção do corpo magro de conhecimento arqueológico muito escasso de estudos sobre o Antigo Reino do Congo e de alguns povos do planalto e da savana, e da pesquisa sobre o tráfico de escravos e sobre as Campanhas Militares de Ocupação, pouco mais se sabe, pois não existe ainda um corpo de conhecimento histórico organizado estabelecido para os outros povos de Angola. Vêmos mapas com setas indicando a rota provavel das migrações desses povos, mas de facto pouco ou nada sabemos sobre o seu passado e evolução histórica.
Para os portuguêses dos Séculos XVI ou XVII interessados na história dos Antigo Reino do Congo e do Reino de Ndongo (Angola), o estudo da história (ou melhor, da pré-história) destes povos e os seus percursores na região representava um desafio considerável, já que o modelo de criação com base na Bíblia Judeo-Cristã que explicava a história dos povos da Europa e do Próximo-Oriente do seu tempo, o não podia acomodar e muito menos explicar, e a ausência de fontes escritas revelavam-se como uma parede intransponível para o estudo efectivo da sua história. Desde cedo eles reconheceram a utilidade e limitações da história oral, e a dificuldade (quase impossibilidade) em estudar os povos que habitaram a região antes da chegada dos povos de língua Banto.
Em termos de cobertura historiográfica de todos os povos de Angola, os Antigos Reinos do Congo e de Ndongo são decerto os que receberam mais atenção dos historiadores, pelo contacto que eles tiveram com os portugueses. De facto, as fontes de história para estes reinos desde o início do contacto com os Portugueses até ao final do Século XVII são relativamente abundantes, comparando com outras regiões e povos de África a sul do Sahara. Após a abolição da escravatura e do tráfico houve um ressurgimento de estudos e fontes para as regiões de Luanda, Ambaca, Congo, Cabinda, Malembo, Cacongo, Lunda, Benguela, e Moçâmedes, e após a Conferência de Berlim as fontes são melhores na cobertura das campanhas militares de ocupação, embora essas fontes realcem a perspetiva portuguesa e não cubram a perspectiva dos povos ancestrais angolanos.
Sabemos ainda que para além da tradição oral, as fontes primárias para o estudo da história dos povos Ovimbundo, Nganguela, Nhaneca-Humbe, Ambó, Herero, Xindonga e os povos pré-Bantos (San, Cuepes e Cuíssis) desde a sua chegada ao que é hoje o território de Angola até a um passado muito recente (meados do Século XX), são na verdade extremamente limitadas. Por exemplo, eu acredito que o estudo dos fortes muralhados no planalto do Huambo haviam de trazer muitos benefícios à compreensão da história dos povos e comunidades que os construiram, mas, mais uma vez pouco se tem estudado os mesmos fortes muralhados.
Na verdade, para a maioria dos povos de Angola, não sabemos exactamente quem eram, como se formaram, como e quando chegaram, e quanto mudaram em termos do seu território desde o tempo do seu relacionamento inicial com outros povos que já viviam nas áreas por onde as suas migrações tiveram lugar.
Para colmatar algumas destas lacunas é importante que estudemos a extensa documentação existente nos arquivos históricos em Angola, em Portugal e no Brasil.
2. Trabalhos de Estudiosos Estrangeiros
É também necessário traduzir e divulgar em língua portuguesa algumas obras de importância extraordinária para o estudo da História de Angola publicadas no estrangeiro, como os trabalhos de E. G. Ravenstein, Heli Chatelain, Monsenhor Cuvelier e Louis Jadin, Edgar Prestage, C.R. Boxer, J.D.Fage, R.A. Oliver, Jan Vansina, Desmond Clark, Douglas Wheeler, Georges Balandier, James Duffy, Merlin Ennis, Basil Davidson, David Birmingham, Gerald Bender, John Thornton, Linda Heywood, Phyllis Martin, Joseph Miller, Lawrence Henderson, Gladwin Childs, Philip Curtin, Eugene Genovese, Herbert Klein, Patrick Manning, Paul Lovejoy, Gervase Clarence-Smith, René Pelissier, David Eltis, Franz-Wilheim Heimer, Beatrix Heintz, Linda Heywood, Robert Blackburn, A.J. Russell Wood, Marc Ferro, Susan Broadhead, Anne Hilton, John Reader, Marq de Villiers, e José Curto, e outros estudiosos tornando-as assim mais disponíveis ao estudioso lusófono da História de Angola.
3. Trabalhos de Historiadores Brasileiros
É ainda essencial a divulgação das obras de estudiosos brasileiros como Capistrano de Abreu, Roberto Simonsen, Celso Furtado, Caio Prado Júnior, Josué de Castro, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque da Holanda, Luís Pereira, Henrique Fernando Cardoso, Maria Beatriz Nizza da Silva, Kátia de Queiroz Mattoso, Décio Freitas, Jaime Rodrigues, Alberto Costa e Silva, Luis Felipe de Alencastro, Marina de Mello e Souza, Mariana Cândido, Laurentino Gomes, Eduardo Bueno, e outros, que apesar de incidirem sobre o estudo da história do Brasil, abriram novos caminhos para uma compreensão mais completa da História de Angola.
Com efeito, a "frente" actual mais promissora do estudo da História de Angola reside agora nas universidades brasileiras, e não nos Estados Unidos, pois é nelas que historiadores brasileiros usando a língua portuguesa continuam a desvendar de arquivos muito originais uma grande quantidade de novos factos e caminhos que nos levam a melhor difundir e compreender a História de Angola.
4. História da África Central
Angola está inserida a África Central, pelo que se torna importante ao estudioso da sua História saber relacionar acontecimentos e tendências em Angola com os ocorridos na África Central e vice-versa, relacionar acontecimentos e desenvolvimentos na África Central e como estes influenciaram a História de Angola. Assim, penso que é útil referir a obra de alguns estudiosos que se salientam neste campo especial da História.
Em termos de proto-história e pré-história, duas obras de grande relevo salientam-se do resto para uma melhor compreensão da História de
Angola, especialmente da sua paleo-história e proto-história, são as
obras de Desmond Clark "The Pre-History of Africa" e "The Pre-History of Southern Africa". Não posso de modo algum deixar de mencionar aqui a importante obra do saudoso Dr. Carlos Ervedosa "Arqueologia de Angola", que é sem dúvida a melhor introdução em português à arqueologia paleontológica (pré-humana e humana) do território a que mais tarde se veio a chamar Angola.
Em primeiro lugar cabe-me citar o nome de Jan Vansina que desde a década de cinquenta do século passado produziu talvez a obra mais abundante e fecunda sobre a África Central. Eu penso que a leitura da sua obra é imprescindível não só ao estudo da África Central, como também ao estudo da História de Angola. Torna-se assim obrigatória a leitura da sua obra "Kingdoms of the Savanna" para quem quiser aprofundar conhecimentos sobre a pré-história dos antigos estados do Congo, Luba, Lunda, Cazembe, e Lozi. Se quisermos aprofundar o conhecimento sobre a história do Antigo Imério Kuba, a leste do Rio Cuango e vizinho de Angola, sugiro a leitura da sua obra "The Children of the Woot". A sua obra "Paths in the Rainforest" é por muitos considerada o melhor estudo de pré-história dos povos antigos que habitavam o território hoje designado com África Equatorial, que compreende os territórios do sul dos Camarões, Gabão, Guiné Equatorial, Congo (Brazzaville), Burkina Fasso (República Centro Africana), Zaire, e até Cabinda. De capital importância para o estudo da pré-história do Antigo Reino do Congo e dos povos ao longo do Quanza é a obra (já clássica) de Vansina "How Societies Are Born - Governance in West Central Africa Before 1600", em que Vansina combina evidência arqueológica com linguística histórica para explicar a evolução de pequenos núcleos de população espalhados pelo território, em sociedades que partilhando a mesma raíz linguística, deram origem aos estados organizados que os Portugueses lá encontraram no Séc. XVI. Assim, em termos do estudo da História de Angola, as suas obras "Reinos da Savana", "Paths in the Rainforests", e "How Societies Are Born" são essenciais, pois nestas obras Jan Vansina oferece o melhor estudo sobre a pré-história dos povos Lunda e Bakongo que viveram na região a que hoje chamamos Angola.
A obra de Jan Vansina não é só importante no estudos dos povos da África Central, mas também a sua obra é considerada por muitos como a que abriu caminho ao estudo da etno-história, às relações entre a linguística e a história, e à aceitação da história oral como um instrumento efectivo e válido no estudo da história pré-colonial.
Outras obras importantes que se torna necessário consultar incluem a "General History of Africa" , em oito volumes, publicada pela UNESCO, a obra fundamental do Prof. John K. Thornton "A History of West Central Africa to 1850" que foca na história dos povos Bakongo, Ambundo, Lunda-Tchokwe, Luba e Ovimbundo, e "The Kingdom of Kongo - Civil War and Transition 1641-1718", e a "History of Central Africa" editada por David Birmingham e Phillys Martin (The External Trade of the Loango Coast 1576-1870" a obra "A History of Africa" (História de África", em português, em colaboração com William Tordoff) da autoria de J.D. Fage, a "A History of South and Central Africa" de Derek Wilson, e a obra de A.J. Wills "An introduction to the History of Central Africa - Zambia, Malawi and Zimbabwe", e a obra de Robert Collins e James Burns "A History of Sub-Saharan Africa".
Para uma melhor compreensão da génese e evolução histórica dos estados Ambundos é essencial a leitura da obra "Kings and Kinsmen - Early Mbundu States in Angola" da autoria do Prof. Joseph Miller, e da obra "Trade and Conflict in Angola - The Mbundu and their Neighbours under the influence of the Portuguese 1483 - 1790" , da autoria do Prof. David Birmingham, que também editou em associação com Richard Gray "Pre-Colonial African Trade - Essays on Trade in Central and Eastern Africa before 1900" que nos oferece uma perspectiva muito boa sobre o papel do comércio na África Central e Oriental antes da chegada dos Europeus à região.
Se bem que mais relacionadas com o componente "etno" do que "história" no campo da etnohistória, a leitura das obras "Custom and Government in the Lower Congo", "Religion and Society in Central Africa", e "Kongo Political Culture", do Prof. Wyatt MacGaffey ajuda a compreender melhor a história política do povo Bakongo.
No campo do tráfico de escravos e o papel que os povos da região ao que chamamos hoje Angola, bem como o impacto do tráfico nesses povos, também é essencial a leitura da obra de Joseph Miller "Way of Death" um pioneiro do estudo da influência do tráfico de escravos do Atlântico nas sociedades africanas entre os séculos XVI e XIX, e de toda a obra de Basil Davidson, o grande difusor do interesse pela história de África.
Como introdução geral à demografia do tráfico de escravos do Atântico é fundamental a leitura da obra de Phillip Curtin "The Atlantic Slave Trade - A Census". Como obra de referência, recomendo também a consulta de "The Trans-Atlantic Slave Trade Database on CD-Rom" compilada por David Eltis, Stephen D. Behrendt, David Richardson, e Herbert Klein, que nos fornece informação sobre 27.233 viagens de navios negreiros entre 1585 e 1866. Ainda essencial é o "Atlas of the Transatlantic Slave Trade" organizado por David Eltis e David Richardson, que nos oferecea melhor série estatística sobre o movimento de escravos através do Atlântico sob as perspectivas de porto de saída em África e porto de chegada no Novo Mundo.
5. Estudos Sobre a História do Atlântico Sul
Não é possível estudar a História de Angola entre os Séculos XVI e XIX sem estudar também a História do Brasil, pois durante mais de 350 era de Angola de onde vinha a mão-de-obra escrava para trabalhar os engenhos de açucar, minas de ouro ou fazendas de café do Brasil. Assim, torna-se imprescindível a leitura das obras clássicas de Celso Furtado "Economia Colonial do Brasil nos Séculos XVI e XVII" e "Formação Económica do Brasil", a "História Económica do Brasil" de Caio Prado Júnior, e "The Portuguese Seaborne Empire", "The Dutch in Brazil", "Race Relations in the Portuguese Colonial Empire 1415-1825", "The Dutch Seaborn Empire", "The Golden Age of Brazil - Growing Pains of a Colonial Society 1695-1750", ""Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602-1686", "Portuguese Society in the Tropics - The Municipal Councils of Goa, Macao, Bahia, and Luanda 1510-1800" todos de C.R. Boxer, bem como "Casa Grande e Senzala" ,"Sobrados e Mocambos", e de Gilberto Freyre.
No que respeita às relações entre a costa de Angola e o Brasil é essencial a consulta da obra de Luiz Felipe de Alencastro "O Tratado dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul", bem como a obra de Jaime Rodrigues "De Costa a Costa - Escravos, marinheiros, e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860", e a obra "A Manilha e o Libambo" de Alberto da Costa e Silva.
Os estudos "An African Slaving Port and the Atlantic Worls - Benguela and its Hinterland", de Mariana Candido, e "Cross-Cultural Exchange in the Atlantic World - Angola and Brazil during the era of the Slave Trade", de Roquinaldo Ferreira, ambos estudiosos brasileiros da História de Angola baseados nos Estados Unidos, são também leitura essencial.
Mais numa perspectiva mais global da história e economia do Atlântico Sul e do sistema económico mundial, é essencial o estudo dos trabalhos de João Lúcio de Azevedo, Fernand Braudel, Vitorino Magalhães Godinho e Armando Castro no domínio da história económica, as obras extensas de Jaime Cortesão e de Damião Peres no domínio da expansão portuguesa, e a obra de Luís de Albuquerque nos domínios dos Descobrimentos Portugueses e da cartografia antiga.
Se bem que mais contemporânea e com focus no processo histórico da descolonização africana é ainda importante estudar as obras de Frantz Fanon "Os Condenados da Terra" e "Peles Negras, Máscaras Brancas" para melhor compreender o enquadramento do colonialismo como sistema económico e político e o seu impacto na psicologia dos povos colonizados.
Para uma melhor compreensão deste tema tão importante é útil a leitura da obra de Jaime Rodrigues "De Costa a Costa - Escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780 - 1860)". Ainda de muito interesse é a obra "Enslaving Connections - Changing cultures of Africa and Brazil during the era of slavery" editada pelos Profs. José Curto e Paul Lovejoy.
Embora sob a capa de leitura mais ligeira e muito bem ilustrada, e por isso mesmo uma importante obra de divulgação, é muito útil a leitura da obra "África e o Brasil Africano" de Marina de Mello e Souza. A esta obra, devemos adicionar as colectâneas de Laurentino Gomes "Escravidão" (em três Volumes) e a trilogia da família real no Brasil "1808", "1822", e "1889", ambas escritas para um público mais largo, sem deixar de conter conhecimentos originais e preciosos.
6. Cronistas e Historiadores Portugueses
Mais próximo de Angola, sugiro uma "re-leitura" dos textos históricos dos cronistas portugueses Gomes Eannes de Azurara, Rui de Pina, Garcia de Resende, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, Damião de Gois, Duarte Lopez e Filippo Pigafetta (Relação do Reino do Congo e das Terras Circumvizinhas, 1591), Domingos de Abreu e Brito (Um Inquérito À Vida Administrativa e Económica de Angola e do Brasil, 1591, António de Oliveira Cadornega (História Geral das Guerras Angolanas, 1680), Alexandre Elias da Silva Corrêa (História de Angola,1799), João Carlos de Feo Cardoso de Castello Branco e Torres (Memórias Contendo a Biografia do Vice Almirante Luis da Motta Feo e Torres: "A História dos Governadores e Capitaens Generaes de Angola, Desde 1575 até 1825, e a Descripção Geographica e Politica dos Reinos de Angola e de Benguella", 1825), Joaquim Lopes de Lima (Ensaio Sobre a Statística d'Angola e Benguella e Suas Dependências na Costa Occidental d'Africa ao Sul do Equador, 1846), Oliveira Martins (O Brasil e as Colónias Portuguesas), Luciano Cordeiro, João de Mattos e Silva (Contribuição para o Estudo da Região de Cabinda, 1904) à luz de um estudo mais crítico e profundo dos seus testemunhos directos.
7. Trabalhos Importantes Sobre a História de Angola
Outros estudiosos da História de Angola mais recentes que são leitura obrigatória para uma melhor compreensão incluem Alfredo Trony, Visconde Paiva Manso, Alberto de Almeida Teixeira, Monsenhor Alves da Cunha, Alfredo de Albuquerque Felner, Padre Ruela Pombo, Francisco Castelbranco, Gastão Sousa Dias, Alberto Ferreira de Lemos, Henrique Galvão, Ralph Delgado, Marcello Caetano, António Brásio, Fernando Batalha, António da Silva Rego, José Gonçalo Santa-Rita, Hélio Felgas, Walter Marques, Manuel da Silva Cunha, Eduardo dos Santos, Martins dos Santos, Júlio de Castro Lopo, Carlos Alberto Garcia, Carlos Couto, José de Almeida Santos, Manuel da Costa Lobo, Norberto Gonzaga, Mário António Fernandes de Oliveira, Manuel Nunes Gabriel, Ilídio Amaral, Cerviño Padrão, Roberto Correia, Jill Dias, Aida Freudenthal, Isabel Castro Henriques, Maria Emília Madeira dos Santos, e mais recentemente Alberto Oliveira Pinto.
Pela sua extensão e detalhe, deste grupo de estudiosos ressaltam as obras do Visconde de Paiva Manso "História do Congo, Obra Póstuma", publicada pela Typographia da Academia, em Lisboa, 1877), de
Ralph Delgado (História de Angola, em quatro volumes, edição do Banco de Angola), as obras de Alfredo de Albuquerque Felner (Angola - Apontamentos Sobre a Ocupação e Inicio do Estabelecimento dos Portugueses no Congo, Angola, e Benguela, publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1933) e a sua obra póstuma compilada por Gastão de Sousa Dias em três volumes "Angola - Apontamentos sobre a Colonização dos Planaltos e Litoral do Sul de Angola, publicada pela Agência Geral das Colónias em 1940, obra póstuma editada por Gastão Sousa Dias).
Duas obras mais recentes são também leitura obrigatória - os três volumes de "Angolana - Documentação Sobre Angola 1783-1883 e 1845, anotações coligidas por Mário António, publicadaos entre 1968 e 1976 conjuntamente pelo Instituto de Investigação Científica de Angola e o Centro de Estudos Históricos Ultramarinos; e "História de Angola - da Pré-História ao Início do Século XXI, do Prof. Alberto Oliveira Pinto, publicada pelo Mercado de Letras, Lisboa, que já vai na sua quarta edição em 2025, é hoje o marco de referência para o estudo completo da história de Angola.
Apesar destes três estudiosos (Visconde de Paiva Manso, Alfredo de Albuquerque Felner, e Ralph Delgado) focarem a sua atenção na história dos
portugueses em Angola, as suas obras não deixam de ser fundamental para se
aprender a história de Angola, especialmente o período inicial de
conquista e colonização. A sua importância reside na extensa riqueza documental que oferecem. Com efeito, muito do que se lê hoje de investigadores nacionais e estrangeiros não são senão que traduções e interpretações originalmente avançadas por estes historiadores nas suas obras clássicas.
Alfredo de Albuquerque Felner (1872-1937) foi um oficial do exército português com experiência de administração colonial, pois ele foi governador em 1911 do antigo distrito de Huila, logo a seguir à colonização do planalto da Huíla e antes dos combates no Cunene contra as forças alemãs. A sua obra principal é sobre Congo, Angola e Benguela, mas ele também escreveu extensivamente sobre a ocupação e colonização dos distritos de Moçamedes e da Huíla. Luanda dedicou o seu nome a uma das suas ruas.
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| Alfredo Frederico de Albuquerque Felner (1872-1937), o grande pioneiro da pesquisa histórica do período inicial da conquista e ocupação pelos portugueses das terras de Angola. |
José Ralph
Corte Real Delgado, nasceu em
Luanda em 1901 e faleceu em Lisboa em 1971. Filho de um administrador colonial (o primeiro administrador do concelho do Bié), ele foi um jornalista e historiador português
nascido em Luanda, e viveu muitos anos em Benguela e no Lobito, conhecido principalmente pela sua
extensa e detalhada obra sobre a história colonial de Angola. Ele foi funcionário público colonial, presidente da câmara Municipal de Benguela, e fundou e dirigiu o Departamento Cultural da Câmara Municipal do
Lobito. Ele foi também durante muitos anos proprietário e director do antigo Jornal de Benguela. Ele esteve ainda ligado à actividade da antiga Livraria Magalhães no Lobito. Em sua memória, o município de Benguela dedicou o seu nome a uma das suas ruas principais.
A obra de Ralph Delgado é
considerada referência fundamental na historiografia da
presença portuguesa em Angola até à abolição da escravatura (1836). O seu trabalho é respeitado pelo rigor, extensão, e profundidade
da sua pesquisa documental, sendo frequentemente citado por outros historiadores e
investigadores da história africana e colonial portuguesa. Grande
parte da pesquisa histórica teve lugar nos arquivos históricos em Benguela,
Luanda, e Lisboa.
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| Ralph Delgado (1901-71), decano dos historiadores de Angola |
Como historiador, ele dedicou a sua carreira a pesquisar e documentar a história de
Angola, utilizando uma vasta documentação de arquivo, o que tornou o seu
trabalho imprescindível para o estudo da presença portuguesa e dos povos
locais. Ele colaborou nas revistas Studia e Olisipo, e no jornal A Província de
Angola, e foi vogal do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, em Lisboa.
A obra principal de Ralph Delgado inclui:
- A Famosa e
Histórica Benguela – Catálogo de Governadores de 1779 a 1940, Edições Cosmos, Lisboa, 1940, Edição do
Governo da Província de Angola)
- Ao Sul do
Cuanza – Ocupação e aproveitamento do Antigo Reino de Benguela, em dois
volumes, Imprensa Beleza, Lisboa, 1944
- O Reino de
Benguela – Do Descobrimento ao Governo Subalterno: Outra obra importante que se foca na história de Benguela.
(Imprensa Beleza, Lisboa, 1945)
A
sua obra mais notável é a "História
de Angola", publicada em quatro volumes ao longo de vários
anos. Esta obra abrange diferentes períodos, desde o descobrimento até a abolição da escravatura (1836):
- História de
Angola: Primeiro período e parte do segundo 1482 a 1607 (Volume 1)
- História de
Angola: Primeiro e Segundo Períodos de 1482 a 1648 (Volume 2)
- História de
Angola: Terceiro Período de 1648 a 1836 (Volume 3)
- História de
Angola: Terceiro Periíodo de 1648 a 1836 (Volume 4)
A obra em quatro volumes foi publicada em duas edições, a primeira pelo Jornal de Benguela em 1948, de que Ralph Delgado era proprietário e director, e impresso nas oficinas gráficas da Livraria Magalhães no Lobito; e a segunda foi publicada pelo Banco de Angola (sem data, mas entre 1968 e 1976) em Lisboa.
É importante relembrar que a leitura do trabalho de alguns destes estudiosos, especialmente os mais recuados no tempo, requere um esforço de tradução mais acentuado para balançar a perspectiva manifestamente euro-cêntrica e colonial (ou anti-colonial) das suas obras. Algumas delas, como por exemplo a obra de Ralph Delgado, defendem abertamente uma visão ultrapassada do mundo colonial, mas ao mesmo tempo contêm uma valiosa referência a documentos históricos originais e importantes que precisam de ser lidos "despidos" da sua "vestimenta colonial".
8. Estudos de Etno-História
Nas área da etno-história e sociologia é essencial o estudo das obras de Henrique Dias de Carvalho, Padre Carlos Estermann, Óscar Ribas, José Redinha, João Vicente Martins, Mário Milheiros, Mesquitela Lima, Manuel Alfredo de Morais Martins, Jorge e Jill Dias, Abílio Lima de Carvalho, Manuel Guerreiro, José Pereira Neto, Padre José Martins Vaz, Padre Joaquim Martins, Ilídio do Amaral (mais no domínio da geografia humana do que etnografia ou história), Herman Possinger, Franz-Wilhelm Heimer e Ramiro Ladeiro Monteiro mais na área de sociologia.
9. Estudos Sobre o Tráfico de Escravos em Angola
Com mais foco no tráfico de escravos, é ainda essencial a leitura das obras de Alfredo Diogo Júnior, António Carreira, José Capela, e Adriano Parreira, que primeiro estudaram o papel de Angola no tráfico de escravos do Atlântico, pois elas revelam um sem-fim de matéria-prima para uma melhor compreensão dos povos de Angola e da sua história.
Cabe-me aqui declarar agora a minha relativa ignorância quanto aos esforços de estudar e publicar história que com certo vigor se publicaram já depois da independência. Longe da acção, tem sido difícil para mim encontrar bibliografia tão recente. Contudo, cumpre-me citar o trabalho fecundo de Henrique Abranches ("Reflexões Sobre a Cultura Nacional") que decerto necessita de alcançar um público muito mais vasto, e da grande obra de difusão do romance histórico angolano levada a cabo pela excelente pena de Pepetela (Artur Pestana). Ambos Henrique Abranches e Artur Pestana (Pepetela) trabalharam com Adolfo Maria e João Vieira Lopes durante a década de Sessenta na compilação da popular "História de Angola", editada pelo Centro de Estudos Angolanos, do MPLA, em 1974, obra de valor didáctico mas de questionável profundidade histórica.
10. Necessidade de se Formarem mais Historiadores Angolanos
Apesar da longa lista acima descrita de estudiosos da História de Angola, a grande maioria dos quais são portugueses, brasileiros, europeus, e norte-americanos, eu acredito que é essencial acelerar o interesse pela história de Angola pelos angolanos e aumentar o número de estudiosos angolanos em arqueologia, história, linguística, e genética, pois só assim se pode investigar a fundo a história de Angola em toda a sua extensão em Angola através das suas fontes que lá se encontram mas que ainda não foram reveladas.
A razão desta necessidade não é só "nacionalista", mas também porque ainda há muita história por investigar e revelar em Angola, e porque também a evidência de certos aspectos dessa história (os etnológicos, documentais, e culturais) só se encontram no universo da sociedade angolana, e por mais que um historiador estrangeiro se esforce, nunca vai encontrar esses elementos fora de Angola.
Da mesma forma, ainda há muita riqueza a desvendar nos arquivos históricos de Angola. Alguns estudiosos angolanos, como Mário António e Ana Paula Tavares, "mergulharam" nos arquivos existentes em Angola e produziram uma obra de divulgação notável e muito util para outros investigadores. Outros estudiosos mais recentes da História de Angola (já depois da Independência), como Elikia M'Bokolo, Patricio Batsikama, Aida Freundenthal, Maria da Conceição Neto, Elizabeth Ceita Cruz, António Custódio Gonçalves, e Alberto de Oliveira Pinto que escreveram obras de maior profundidade que são hoje referência obrigatória.
Finalmente, tomo aqui a oportunidade de guiar o leitor para as
minhas notas sobre a bibliografia da História de Angola que apresento no
fim deste trabalho. Elas não são decerto completas, pois incluem apenas
algumas notas pessoais sobre textos que conheço, organizadas de acordo
com temas e épocas; apenas um achego simples a tão importante e vasto
tópico do estudo da História de Angola.